Por: Bruno Cardoso
Neste fim de semana (11 a 13 de julho de 2025), na Polónia, Alex foi o nome que se destacou. Não por ser o mais vistoso ou barulhento, mas por ser, simplesmente, ele próprio.
Alex, um urso galego com raízes portuguesas e com um certo ar tímido, foi eleito Mister Bear Europe 2025.
A eleição aconteceu em Poznań, numa noite vibrante e cheia de significado. Quando chegou a vez do Alex, ele subiu ao palco com uma interpretação íntima de “I Turn to You”, na versão crua e emocional de Cornelia Jakobs.
A música vinha acompanhada por um vídeo feito de gráficos simples, quase infantis, como se desenhados a giz por um adolescente — e talvez por isso mesmo, tão cruamente verdadeiros. O vídeo contava a sua própria história: o momento em que os primeiros pelos lhe começaram a aparecer, o desconforto de ter um corpo diferente dos colegas, numa altura em que a moda da metrosexualidade glorificava corpos depilados, e em que os pelos no corpo eram motivo de chacota.
Na praia, os colegas gozavam com ele por já ter pelos nas costas. Arrancavam-nos, riam-se, achavam normal. Coisas de miúdos. Coisas que deixam marcas.
Mas naquele palco, Alex fez dessas cicatrizes um manifesto. Ofereceu não apenas uma performance, mas uma narrativa. Uma mensagem silenciosa que mostrava fragilidade, resiliência e conexão. A sala calou-se. A vulnerabilidade tornou-se coragem. E foi ali que muitos perceberam: este não era apenas mais um concorrente, era uma presença.
E Alex trouxe mais do que emoção. Trouxe propósito. Durante a sua candidatura, lançou um compromisso claro: um pledge de acessibilidade para eventos bear em toda a Europa.
“É fácil ignorar a acessibilidade se nunca tiveste de pensar nela. Quando o fazes, a tua percepção do mundo muda. E está cheia de obstáculos.”
Inspirado por um simples post da BearScots que listava os recursos de acessibilidade dos seus espaços, Alex decidiu propor algo tão simples quanto transformador: que todos os eventos bear partilhem, de forma clara, as condições de acessibilidade dos seus espaços e atividades. Que comuniquem melhor. Que escutem mais. Que tentem, sempre que possível, acolher mais corpos, mais realidades, mais formas de estar.
O compromisso não exige perfeição. Exige transparência. Detalhes como escadas, casas de banho adaptadas, zonas calmas, sinalética clara, presença de intérpretes, mapas, estacionamento, iluminação ou a possibilidade de levar acompanhantes — tudo pode fazer diferença para alguém. E tudo comunica uma coisa simples: a tua presença importa.
“Quero também acompanhar estes esforços e recolher opiniões de quem deles beneficia. Na próxima eleição de Mr. Bear Europe, gostaria de destacar os eventos mais inclusivos e talvez atribuir algum reconhecimento.”
A sua vitória não é só dele. É de todos os que já se sentiram demasiado fora de lugar para acreditar que podiam representar uma comunidade. É de todos os corpos que não cabem nas vitrines, mas preenchem abraços. É de Lisboa, que o acolheu como um dos seus. É da Galiza, que o viu nascer. E é da Europa, que agora o elege como símbolo de empatia, ação e amor-próprio.
E o reinado já começou com impacto. No fim de agosto, Alex viajará até à Islândia para “coroar” o primeiro Mister Reykjavik Bear. Uma estreia simbólica, e uma ponte entre comunidades que, apesar das distâncias geográficas, partilham os mesmos sonhos de entreajuda e pertença.
Alex será Mister Bear Europe durante um ano. Vai viajar, representar, estar presente. Mas mais do que isso, vai continuar a ser quem sempre foi: alguém que, mesmo com a coroa, continua a preferir o calor de uma conversa sincera em vez de uma pose perfeita para uma foto.
Porque há algo de profundamente transformador em continuar a ser meigo num mundo que tantas vezes exige armaduras.
Parabéns, Alex. Que continues a virar-te para os outros — e que, ao fazê-lo, continues a inspirar todos a abrir espaço, a escutar e a fazer melhor!
E mal podemos esperar para te receber na estreia do nosso círculo de entrevistas: “Na Toca com…”